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Olhos nos olhos – Como House of cards e o Netflix me arrebataram

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Não são poucos os louros que House of Cards vem colecionando nesse primeiro ano vida. Em janeiro, Robin Wright venceu a categoria de melhor atriz em série de TV no Globo de Ouro – prêmio para o qual a série ainda teve três outras indicações: série dramática para TV; ator/drama (Kevin Spacey); e ator coadjuvante/drama (Corey Stoll). A primeira série original do Netflix também abocanhou três, dos nove Emmys para os quais foi indicada (diretor, para David Fincher; direção de fotografia; e elenco/drama. Indicações e prêmios merecidíssimos para a primeira e bastante intensa temporada.

Para mim, House of Cards foi paixão à primeira vista. Bastaram 80 segundos, um par de frases, um olho no olho, umas poucas notas musicais e, pronto… adeus, fim de semana de sol! Eu estava completamente entregue. Embarquei naquela história de cabeça. Sozinha em meu quarto, eu me tornei mais uma carta no castelo daquele mau-caráter de bico doce. É compulsão, eu sei. Onze horas de dedicação a esse vilão que deixa Iago parecendo mocinho de novela das nove. (Mas, em minha defesa, devo dizer que foram 11 horas divididas em dois dias. Assim pareço menos compulsiva?).

A culpa foi de Kevin Spacey, grandessíssimo ator que me olhou nos olhos, e do Netflix, que jogou todos os 13 episódios da primeira temporada da série na rede. Ao mesmo tempo. Sem dó. Como é possível controlar a vontade de saber o que o canalha vai aprontar sem ter que esperar uma semana inteira? É pior que tentar tirar a mão do saco de pipocas fresquinhas. Pois, como disse, eu não resisti. E não me arrependi da overdose de maldades, falcatruas, rasteiras e fofoquinhas das quais fui cúmplice.

Então, é assim: House of Cards estreou em fevereiro de 2013 e é baseada numa minissérie homônima, realizada nos anos 90 pela BBC de Londres (ainda não vi – mas verei, aguardem). Francis Underwood (Kevin Spacey, excelente, como sempre) é um senador que jurava que seria nomeado secretário de estado pelo presidente que ajudou a eleger. No entanto, o chefão passa uma tremenda rasteira e nomeia outro para o cargo. Com sangue nos olhos, Francis elabora um plano de vingança que vai derrubar, um por um (olha aí o castelo de cartas) todos os que, de uma forma ou de outra, participaram dessa “traição”.

Doug [braço direito de Francis] – Vamos dar o troco?

Francis – Não, não… É mais do que isso. Dê um passo para trás. Olhe o quadro geral.

Doug – Acho que estou entendendo. Kern primeiro?

Francis – É como se devora uma baleia… uma mordida por vez.

É impossível não identificar traços de alguns personagens shakespeareanos bem conhecidos na composição de Francis (ou Frank, para os íntimos). O canalha é um mix de Macbeth, Ricardo III e Iago. Só gente boa da melhor qualidade. Mesmo assim, o  espectador cria um laço tremendo com ele. Provavelmente por conta do recurso mais visível da série – a quebra da quarta parede. Pera lá, não sou nenhuma acadêmica e não gosto desses artigos/resenhas que se cobrem de tecnicismo para dar aulas intelectualoides, mas acontece que é isso mesmo. Frank vive olhando para a câmera e chamando quem assiste para compactuar de seus pensamentos mais íntimos. Kevin Spacey é mestre nessa arte. Ele olha diretamente nos olhos. Da câmera. Do interlocutor. E, mesmo assim, mente descaradamente.

O outro trunfo da série é Robin Wright (Os homens que não amavam as mulheres), fantástica. Como dizem por aí, por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher. E as costas de Frank estão seguras por sua esposa, Claire. Ela sabe de todos os planos do político. Apoia e incentiva cada um deles, sem descer do salto e sempre com todos os fios de cabelo no lugar. Com certeza, páreo duro para Lady Macbeth.

Para tascar uma pimentinha na história, Frank se envolve com a jornalista Zoe Barnes (Kate Mara) que, em início de carreira e louca para arrasar nas manchetes país afora, alia-se ao político pessoal e “romanticamente” em troca de furos. São ótimas as cenas com os dois juntos.

Carta após carta, seguem-se 13 episódios muito bem-feitos, dirigidos por figuras como David Fincher (Seven, Clube da Luta), James Foley (A estranha perfeita), Joel Schumacher (O número 23, Um dia de fúria), Carl Franklin (Por um triz) e Allen Coulter (episódios de Família Soprano e Sex and the city). A qualidade é inquestionável. Tanto de produção, quanto de roteiro e interpretações. Estima-se que foram gastos US$ 100 milhões nessa primeira temporada. O valor será equivalente ao da segunda, cuja estreia aconteceu em 14 de fevereiro de 2014, também com 13 capítulos (todos já assistidos por esta que vos escreve, é claro).

E, se você quer saber, a segunda temporada manteve o padrão técnico da primeira. As interpretações continuam sensacionais, bem como a fotografia, as edições e direções. Os diálogos também são afiadíssimos. Mas a trama e as histórias paralelas, para mim, perderam força. São boas, mas minhas expectativas eram um tantinho maiores. De todo modo, valem a maratona (ou, para os mais parcimoniosos, ao menos as visitas semanais). Prefiro não expor a sinopse da segunda temporada aqui para não correr risco de spoilers (mesmo que involuntários) para quem for assistir aos primeiros episódios.

Apenas: se você gosta de intrigas, é chegado em boas interpretações e, de quebra, quer se sentir menos vira-lata tendo a certeza de que politicagem vil não é só coisa de brasileiro, corra para o serviço online e veja, ao menos, o primeiro episódio de House of Cards. Para mim, foi um nocaute. E você, o que achou?

Tchau, locadora?

Muito se tem especulado, por conta de serviços como o Netflix e de TVs on demand (tipo Sky e Net) – e da pirataria também, é óbvio –, que as locadoras estão com os dias contados. A União Brasileira de Vídeo (UBV) diz que existiam quase 14.000 locadoras no país, em 2005. Em 2012, houve uma redução de 71% (cerca de 4.000 em atividade).

Particularmente, sempre gostei de ir a locadoras. Assim como sempre gostei de ir ao cinema e não parei de fazê-lo por causa do videocassete, sabe como? As coisas mudam, evoluem, adaptam-se. Apesar dos nossos sentimentos saudosistas. Mas o que se sabe é que a internet está vindo com tudo. Cada vez mais, e com mais categoria. Com mais recursos. E com qualidade, o que é de extrema importância. De acordo com uma pesquisa da ZenithOptimedia (empresa francesa que mede a performance dos investimentos de publicidade em mídia), a rede mundial de computadores é, agora, a segunda mídia mais importante, perdendo apenas para a TV. Em 2013, a web abocanhou 20,26% da grana investida em anúncios. A TV teve quase o dobro (40,2%), os jornais ficaram com 17%, as revistas com 7,9% e o rádio com 6,9%. Aqui em terra brasilis, o fenômeno é bastante visível com a galera do Porta dos Fundos, que está aproveitando o momento como ninguém.

No caso de filmes e séries, depois do fechamento de sites de compartilhamento e downloads (com muito conteúdo pirata) como o Megaupload, Hotfile e 4Shared, os serviços de streaming, como Netlix, Cuevana TV  e Total Movie estão na mira dos cinéfilos e “seriadófilos” (existe isso, produção?).

Confesso: neste momento virei fã do Netflix (se até a presidenta disse ver seus filminhos por ali… por que não eu, certo?). Pagando uma mensalidade R$ 16,90, tenho acesso a um acervo online (ainda é pequeno, é verdade) de filmes, seriados, shows e até novelas – daquelas bem ao gosto do seu Silvio Santos… Mas quem sou eu para julgar? Depois de sacrificar um fim de semana de sol (artigo raríssimo aqui para as bandas de Curitiba, de onde escrevo estas tantas linhas) para virar cúmplice das vilanias de Francis Underwood, passei duas semanas às voltas com as temporadas antigas de Arrested Development, até chegar à tão aguardada quarta temporada. Tudo sob as bênçãos do Netflix. Agora, começarei a ver Breaking Bad (não me julguem). E viva o serviço de streaming!

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União Brasileira de Vídeos

Cuevana TV

Total Movie

Andrea Ribeiro

Andrea Ribeiro é jornalista. Mora em Curitiba e é apaixonada por cinema, TV, risadas e chocolate. Twitter: @_AndreaRibeiro

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Um comentário sobre “Olhos nos olhos – Como House of cards e o Netflix me arrebataram

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