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Stroking the music

The Strokes

Chegou recentemente às lojas do país o CD ”Is This It” (preço médio: R$ 25,00), da badalada banda nova-iorquina The Strokes, que está sendo considerada a maior revelação dos últimos tempos pela crítica especializada, especialmente de revistas “descoladas” como a norte-americana Rolling Stone e a britânica The Face.

De fato, “Is This It” é um dos melhores álbuns do ano: suas harmônicas canções parecem emitir pequenas e contagiantes explosões de energia a cada acorde, a cada batida. Lembram bandas como Stooges, Television e Velvet Underground, a única influência unânime entre os membros da banda. Julian Casablancas (vocalista e compositor), Nikolai Fraiture (baixista), Albert Hammond Jr., Nick Valensi (guitarristas) e Fabrizio Moretti (baterista) confessam que esse ar “retrô” é intencional. Pelos seus nomes, dá para ver que esses rapazes representam uma Nova York bem cosmopolita, contando até com um brasileiro: Fabrizio é filho de uma brasileira e de um italiano, nasceu no Rio mas mora em Nova York desde os quatro anos. Os cinco já eram amigos de longa data quando resolveram se juntar e montar o grupo.

O que mais espanta na trajetória dos rapazes é que mesmo antes de lançarem seu primeiro álbum suas músicas já faziam sucesso e eram comentadas. Seus singles, lançados primeiro no Reino Unido, os elevaram à condição de hype; e foi lá que ganharam uma legião de fiéis fãs, antes mesmo que em “casa”. Chegaram inclusive a tocar no famoso Festival de Reading deste ano, muito para uma banda que só recentemente lançou o primeiro videoclipe, de Last Nite, dirigido por Roman Coppola (filho de Francis Ford).

Na verdade, o álbum só foi lançado nos Estados Unidos no fim de setembro, e em versão modificada. Em tempo: a música New York City Cops foi trocada às pressas por uma reserva, When It Started, pois possui um verso polêmico: “os policiais de Nova York não são tão espertos”. Os atentados de 11 de setembro repercutiram até no underground… a canção, contudo, não saiu do repertório dos shows, e a versão do álbum que chegou ao Brasil é a original, semelhante à britânica até na capa, esta também modificada nos EUA.

Polêmicas à parte, o grupo quer continuar a fazer música de qualidade, mas sem deixar que isso lhes suba a cabeça. Eles rejeitam o título de revolucionários e/ou de salvadores do rock: “Muita gente faz com que pareçamos uma banda meio da moda, meio raivosa. Na verdade, nós somos caras divertidos e adoráveis. Não temos a intenção de sermos os reis do pedaço, como fazem parecer. Somos só uns doidos que usam as mesmas roupas que há cinco anos”, disse Fabrizio. Negam até mesmo os velhos clichês do estilo: “Não queremos ser conhecidos como uma drug band”; “Não fazemos covers, só faríamos se soubéssemos que ficaria melhor que o original”, são declarações de Nick Valensi que atestam suas intenções. É bom que não se deixem levar pelo auê em torno deles. Os Strokes têm um trabalho excelente, mas não dá para elevar seu álbum de estreia à categoria de clássico. São muito jovens (todos entre 20 e 23 anos de idade) e têm uma carreira inteira pela frente.

Por enquanto, está de bom tamanho curtir suas canções, que falam basicamente sobre relacionamentos e problemas comuns a qualquer jovem. Há quem as ache repetitivas, muito vinculadas ao punk dos anos 70, ou simplesmente superficiais, retratando problemas de “meninos ricos”. Essas críticas se baseiam principalmente no fato de Julian ser filho do fundador da Elite Models, John Casablancas. Na verdade, o vocalista com cara de junkie arrumadinho se declara independente do pai e está mais interessado em escrever letras baseadas em suas experiências pessoais. Versos que contém até certos toques de cinismo: “Noite passada ela me disse ‘me sinto tão deprê’, e acabou me desanimando; e eu me senti abandonado, virei pra ela e disse ‘não estou mais nem aí, disso eu tenho certeza, vou embora daqui’”.

Experiência única é assistir a um show deles, dizem os privilegiados que já testemunharam suas performances. Eles até ressuscitaram o mosh, pulo do palco para a plateia, que ultimamente estava restrito aos shows de metal. Conversei via e-mail com uma groupie “coreana-norte-americana”, que mantém um site sobre a banda e já assistiu a sete de seus shows. Ela me disse que os rapazes são mesmo muito legais e que sempre consegue falar com eles antes e depois das apresentações – eles até já a reconhecem: “O ‘Fab’ sabe o meu nome”, confidenciou. É rezar para que algum dia eles apareçam por este país. Enquanto isso, tentamos entrar em contato com suas músicas e ideias através do CD, ou por alguma das diversas páginas na internet dedicadas a eles. A oficial é esta.

“Strokes” pode significar batida, pancada, derrame, toque, carícia ou até mesmo porrada, dependendo do contexto; assim, a palavra por vezes é associada à masturbação – os rapazes riem de quem pergunta se é isso que explica o nome da banda, e respondem que na verdade é apenas uma boa definição da música deles: vibrante, bem ritmada, com boas levadas de baixo e bateria, que acabam de repente em algum verso distorcido na voz de Julian. É ouvir para comprovar. Os Strokes podem não ser a melhor banda do mundo, mas para o momento musical em que vivemos, são a resposta ideal para as Britney Spears e os N’Sync da moda.

*O texto foi escrito em 2001, por isso as referências temporais não estão atualizadas

Liliana Albuquerque

Liliana Albuquerque é jornalista, doutora em Teoría, Análisis y Documentación Cinematográfica, Film Studies pela Universitat Pompeu Fabra e foi colaboradora da Pulgaonline.

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