Semana pancada e ânimo quase se exaurindo. Volto da biblioteca e sigo apressada a procura de um café. Aperto o passo na esquina da Benedito Calixto e num canto da praça um menino me pergunta se eu não quero ajudá-lo comprando um origami. Eu cheguei a quase ir embora, não tinha trocado e queria meu café.
Eu disse: – Escolhe você que entende mais disso que eu. Ele abriu o sorriso e disse: – Toma o sapo, que é para dar um salto na vida e um Tsuru, que dá sorte. E abriu o sorriso maroto de novo.
Mas, não sei porque, o menino me chamou a atenção. Talvez a caixa de papelão toda colorida. Uma segurança na voz. Fato é que já estava quase indo quando desisti. Virei o corpo e perguntei se ele tinha troco pra uma cédula. E ele respondeu: – É claro, né? Já me compraram antes. Eu pensei com meus botões: – é muito gaiato. Então, falei: – Pois então me dá dois origamis. Ele me mostrou a caixa. – Pode escolher. Eu disse: – Escolhe você que entende mais disso que eu. Ele abriu o sorriso e disse: – Toma o sapo, que é para dar um salto na vida e um Tsuru, que dá sorte. E abriu o sorriso maroto de novo.
Aí eu não resisti. Perguntei: – E qual o seu nome? Ele falou: – Igal. Eu me despedi: – Pois tchau Igal, a gente se vê por aí. Num golpe final, ele retrucou: – Você é a primeira pessoa na rua que fala meu nome direito. E mais uma vez sorriu com um desprendimento tão bonito. E no fim fui eu quem saí feliz com meus dois origamis no bolso. Ironias da vida, quem me ajudou foi o menino. Dessas felicidades genuínas que te vencem.
P.S.: Em dia de pokemon go, ai como foi bom ver alguém procurando e oferecendo algo de verdade por aí.
Texto publicado originalmente em 4 de agosto de 2016.
Grazielle Albuquerque
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